OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Entrevista com José Bocca - Votorantim / SP

Conheci "Zé Bocca" No Simpósio Internacional de Contadores de HIstórias, onde nos encontramos praticamente todos os anos. Não são poucas as notícias da beleza e grandeza de seu trabalho. Um artista gregário e irmão, que batalha pela classe e está sempre presente com seu belo repertório.
Nesta entrevista vamos conhecer melhor sua filosofia de vida, de trabalho e sua visão sobre a arte de Contar Histórias.

Zé Bocca é ator, contador de histórias, coordenador do Núcleo de Contação da cidade paulista de Votorantim, percorreu diversas capitais brasileiras, entre elas Porto Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Salvador e S. Paulo.
Vencedor do Festival de Humor de Sorocaba, na categoria Causos e Mentiras, no ano de 2007. Coordenador e apresentador do projeto Violas, Causos e Crendices, em Votorantim.
É vice presidente do Instituto Conta Brasil, que se propõe a discutir questões relativas à narração oral, em todo território brasileiro.
Ministra oficinas e palestras sobre a arte de narrar histórias, junto a órgãos municipais, estaduais, federais, empresas privadas e ONGs
Em parceria com o Instituto Cultural Aletria de Belo Horizonte/MG, atua monitorando oficinas junto ao grupo Encantadores de Histórias, formado por recuperandos do sistema APAC (Associação de proteção e assistência ao condenado).


Jiddu Saldanha – Como você vê o panorama da contação de histórias no Brasil hoje. Ouve um crescimento e um amadurecimento da expressão destes artistas?

José Bocca - Muito positivo, se percebe cada vez mais pessoas interessadas em narração de histórias. Seja no sentido de praticar, ser contador, como na condição de oportunidades de trabalhos.
Hoje em dia já é possível sobreviver de contar histórias. E é claro e evidente que há um amadurecimento e respeito aos contadores de histórias no Brasil e já existem sinais de movimentos organizados, para se pensar a arte de contar histórias, e a condição do contador de histórias. Como o Instituto Conta Brasil (www.contabrsil.org), uma ONG formada por contadores de todo Brasil.

JS – Que avaliação você faz dos eventos que hoje acontecem no Brasil, em que eles estão contribuindo para melhorar o contato com a leitura e a memória?

JB - Felizmente cada vez mais no Brasil existem eventos que congregam narrativas e narradores, alguns com uma longa carreira. Podemos citar o Conto Sete em Ponto, em Belo Horizonte, que ocorre há mais de dez anos, recebendo os mais importantes nomes do país. Em São Paulo, acontece bienalmente o Boca do Céu, recebendo contadores do Brasil de outros países, mas o grande catalisador, aglutinador e motivador de todo o movimento existente hoje é, sem dúvidas, o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, que desde 2002 de forma ininterrupta ocorre no Rio de Janeiro, e em 2010, também em Ouro Preto, oferecendo de maneira extremamente rica, trocas de experiências e vivências nos mais diversos sotaques, línguas e linguagens. Mas, contudo, é importante destacar que a tarefa da oralidade, da preservação da memória, deve ser de todos: contadores, pais, educadores.

JS – Na tua percepção o que uma pessoa precisa ter para ser um contador de histórias?

JB - Antes de qualquer coisa, ser um bom ouvinte de histórias. Depois, existem elementos importantes que podem favorecer uma boa narrativa. Mas, na minha visão, o importante é jogar com a platéia, o olho no olho é fundamental. Agregado a isso, uma boa bagagem, vivencia, é o que Regina Machado, no seu livro Acordais: Fundamentos Teóricos-Poéticos da Arte de Contar Histórias (Editora DCL) – aliás, obra importante pra qualquer contador que se preze – chama de “repertório de informações” do contador. Não basta ter umas histórias memorizadas, é preciso estar ligado no contexto, antenado com o universo a sua volta.
E por fim, acho que o que define um bom contador de histórias é: aquele que consegue transformar em imagens, na cabeça do ouvinte, as palavras que saem da sua boca.
JS – Que tipo de repertório você recomenda para os narradores iniciantes?

JB - Acho delicada essa coisa de recomendar repertório, o importante é trabalhar com aquilo que se identifique, que se sinta confortável. Adoro repetir em minhas oficinas uma frase de Einstein, o físico: É 10% de inspiração e 90% de transpiração. Não basta o talento, há que se praticar.

JS – Fale um pouco dos momentos vividos na tua carreira, o que te marcou, que lembranças valem a pena citar nesta entrevista?

JB - Bem, eu comecei como ator, lá pelos idos de 1989, meio que por acaso, sem saber o que fazer da vida. Um dia, uns amigos que faziam teatro junto ao Sindicado dos Metalúrgicos de Sorocaba, foram pra rua pra “falar” poesias e por coincidência nos encontramos, me convidaram pra participar, mas nunca havia feito nada além de “teatrinho” de escola ou igreja.
Porém de tanto insistirem decidi falar duas poesias que conhecia de cor: Como dois e dois são quatro (Ferreira Goulart) e Língua, um canto falado (Caetano Veloso).
Quando estávamos comemorando em um boteco, um diretor de teatro da cidade, me disse, apontando o dedo e me olhando na cara: “Bocão, você foi picado pelo vírus, não vai sarar nunca mais”. Até hoje eu não sei se era uma benção ou uma praga; mas o fato é que ele estava certo.
Depois de anos como ator, comecei a contar histórias, mas com todo o ferramental que eu trazia do tetro, em especial o teatro de rua, que era minha escola. Contava com adereços, figurino, maquiagem...
Até que em 2002, participei do primeiro encontro de contadores, em Porto Alegre, dentro do Fórum Social Mundial, e percebi que a força do contar histórias, estava na palavra e hoje tenho, como contador, um trabalho mais “limpo” e centrado na palavra oral.
Pois, como disse certa vez, numa entrevista pra revista Bravo, José Saramago, escritor português: “A verdadeira palavra, é a palavra dita. Pois a palavra escrita é apenas uma coisinha morta, que está ali, a espera que a ressuscitem”

JS – O que você lê? O que você gosta de ouvir?

JB - Leio de tudo que cair na minha mão, desde literatura de cordel a tratado de física quântica, bula de remédio, rótulos de embalagens. É claro que tenho minhas leituras preferidas. Gosto muito de poesias, sendo meu poeta predileto Paulo Leminski, gosto muito do russo Maiokoviski. Na prosa, adoro o trabalho do Ruben Fonseca.
Também leio muita teoria sobre a arte de contar histórias.
Quanto a musica, sou muito eclético, ouço desde canções e populares até jazz, blues e afins. Ultimamente estou mergulhado no cancioneiro caipira do interior paulista, me deliciando com Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Alvarenga e Ranchinho.

JS – Quem é Zé Bocca por Zé Bocca?

JB - Morador de Votorantim/SP, onde está enterrado meu umbigo.
Pisciano (do dia da mulher), e como bom peixe, morro sempre pela boca. Meus pecados são sempre por palavras, nunca por ato ou omissão.
É isso...



Principais eventos que participou como contador, nos últimos anos.

-          Feira do Livro Infantil de Fortaleza/ CE (2010)
-          Violas, Causos e Crendices – Votorantim/ SP ( 2003/ 04/ 05/ 06/ 07/08 /09)
-          Simpósio Internacional de Contadores de Histórias (2003/ 04/05/06 /07/08/0910)
-          Bienal do Livro de Fortaleza/ CE (2006)
-          Boca do Céu Encontro de Narradores e Narrativas – S. Paulo/ SP (2006/2008/2010)
-          Maratona de Histórias de Florianópolis/ SC (2005)
-          Festa do Livro e da Leitura de Aracati/ CE (2005)
-          Feira do Livro de Porto Alegre/ RS (2003/ 2004)
-          (Encontro Internacional de Contadores de Histórias 2003)


Conheça o Violas Causos e Crendices
evento coordenado por Zé Bocca


                  www.bocadehistorias.art.br
                 contato@bocadehistorias.art.br 
15 – 91289300 c/ Zé Bocca

4 comentários:

  1. Sensacional essa entrevista com Zé Bocca!
    A possibilidade de transmitir conhecimento de uma forma tão orgânica e expressiva.é de tirar o chapéu! e aplaudir!
    Cada vez mais cresce a colcha de retalhos de narrativas e narradores no país...tive a oportunidade de participar do encontro de Griôs em Lençois na Bahia e enquanto lia a entrevista lembrava dos senhores e senhoras que contam seus causos e mitos a muitos anos. Essa arte é milenar
    e deve ser apoiada e ramificada cada vez mais.
    É com artistas e mestres assim que podemos rever nossa oralidade e desenvolver através do encontro o verdadeiro ato de atuar.
    Por essa missão tbm fui tocada pelo teatro quando era criança.
    Numa cidade chamada Brasil novo no interior do Pará conheci um circo que me aplicou uma injeção de ânimo e Baco.. até hoje trabalho nesta área e venho desenvolvendo artísticamente projetos teatrais e encontros em cidades do interior do BRASIL...contando e criando historias...junto com jovens,crianças e estudantes iniciados ou não no teatro.
    Como diz a entrevista...não basta o talento! é preciso praticar...concordo plenamente afinal quanto mais multiplicadores dessa arte de contar historias tivermos por aii menos violência e ócio aos jovens e crianças...
    Então muita luz, saúde e mais encontros a nós todos !


    Seguem meus contatos internåuticos


    http://imperiodasmatas.blogspot.com

    link -Portfolio trajetória / Atriz

    http://youtu.be/rGr5H3Z82RE

    Oficina em Macapá
    http://youtu.be/cr6DSuVCJ9Q

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  2. É muito bom, me sinto privilegiado de ter um conterrâneo sendo reconhecido através de seu trabalho, e o mais importante, hoje ele é conhecido pelo que faz porque o faz com amor, se fosse pelo dinheiro e fama já havia parado há muito tempo. Que Deus o abençoe e através de seu exemplo possa impusionar essa fantástica arte de transmitir a cultura de uma região.

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  3. Lindo...fico muito feliz por este espaço.Sou fã e torcedora do trabalho maravilhoso que o Zé desenvolve.

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  4. cheguei e daqui nao saio rsrsrrs
    obrigado meus amigos e parabens

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